Quatro a cada 10 habitantes de Salvador viviam em favelas em 2022, aponta Censo; proporção é terceira maior entre capitais
08/11/2024
Números do IBGE mostram que a capital concentrava 45,8% das favelas baianas, no período da pesquisa, e mais de um milhão de pessoas viviam em comunidades. Número de favelas mais que dobrou na Bahia em 12 anos
Em 2022, quatro a cada 10 habitantes (42,7%) de Salvador moravam em favelas. O número, que representa 1.370.262 pessoas, foi descoberto através do Censo Demográfico 2022 e divulgado nesta sexta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado mostra que a capital concentrava 45,8% ou 262 favelas do total de 572 comunidades mapeadas no estado. É a terceira maior proporção entre as capitais do país, atrás apenas de Belém (PA) e Manaus (AM). As 310 restantes estavam espalhadas em 27 dos 417 municípios baianos.
Para o IBGE, as favelas são locais onde há: "territórios populares originados das diversas estratégias utilizadas pela população para atender, geralmente de forma autônoma e coletiva, às suas necessidades de moradia e usos associados (comércio, serviços, lazer, cultura etc.)". [Veja detalhes abaixo] Na prática, em muitos casos, isso inclui relações de vizinhança, engajamento comunitários e intenso uso de espaços comuns.
Na Bahia, abaixo de Salvador, as cidades que tinham maior número de áreas avaliadas dessa forma em 2023 eram Feira de Santana (49 comunidades), Camaçari (47) e Lauro de Freitas (35). Quanto à proporção de moradores de favelas pelo total de habitantes, os municípios com maiores marcas depois da capital eram Ilhéus (64.364 pessoas em favelas), Camaçari (54.664) e Feira de Santana (44.699).
De modo geral, o estado tinha 1.370.262 pessoas vivendo em favelas e comunidades urbanas — o quarto maior número absoluto entre os estados, que representava 9,7% da população baiana.
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Complexo do Nordeste de Amaralina, em Salvador
Reprodução/TV Bahia
Evolução e perfil da população: mais preta, mais feminina e menos longeva
O estudo também mostrou que a população moradora de favelas na Bahia era:
mais feminina - 53,4% eram mulheres;
mais preta - 39,2% das pessoas se declaravam dessa cor;
menos longeva - apenas 12,7% da população tinha 60 anos ou mais.
Outra observação destacada pelo IBGE é o aumento do número de favelas: em 2010, ano do Censo anterior, 280 áreas do tipo foram identificadas na Bahia. Ou seja, o número mais que dobrou em 12 anos.
'A favela ainda não venceu', reflete atriz Tania Koto
Bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador
Alberto Maraux / SSP-BA
Apesar do crescimento na quantidade de áreas mapeadas, a Bahia caiu três posições no ranking nacional. Antes era o quinto maior número do país e, 12 anos depois, passou para o oitavo.
Em 2022, o ranking era liderado por São Paulo (3.123 favelas), seguida por Rio de Janeiro (1.724) e Pernambuco (848). O Censo mapeou um total 12.348 áreas do tipo em comunidades urbanas de todo o país. São locais espalhados em 656 municípios ou 11,8% dos 5.570 existentes.
Além disso, o quadro geral mostra que a Bahia tinha duas das 20 favelas mais populosas do Brasil. É o caso de Beiru/ Tancredo Neves, com 38.871 moradores nesses locais, como a 10ª maior comunidade do país, e Pernambués, com 35.110 moradores, na 11ª posição.
Favelas e comunidades na concepção do IBGE
Bairro de Tancredo Neves, em Salvador
Reprodução/TV Bahia
O Censo mostra que houve um aumento generalizado no reconhecimento de favelas e comunidades urbanas, o que o próprio IBGE avalia como fruto de seus "aprimoramentos metodológicos e tecnológicos".
O instituto entende que favelas e comunidades urbanas são áreas com "predominância de domicílios com graus diferenciados de insegurança jurídica relativa à posse" e pelo menos um dos seguintes critérios:
ausência ou oferta incompleta e/ ou precária de serviços públicos (iluminação, saneamento, drenagem etc.);
predomínio de edificações, arruamento e infraestrutura usualmente autoproduzidos e/ ou orientados por parâmetros urbanísticos e construtivos distintos dos definidos pelos órgãos públicos;
localização em áreas com restrição à ocupação definidas pela legislação ambiental ou urbanística, como faixas de domínio de rodovias e ferrovias, linhas de transmissão de energia e áreas protegidas; ou em áreas de risco.
A classificação também leva em conta trabalhos de campo, de análise de imagens de satélites e tratativas com as prefeituras. O objetivo é alinhar a classificação do IBGE com a feita pelos próprios municípios.
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